-Você realmente quer trazer Justiça?
Olhava para o corpo vacilante de seu pupilo. Já treinavam há mais de seis horas. O corpo do garoto parecia que não suportaria muito mais tempo. A chuva aliada ao peso da espada faziam o garoto tremer. Já é hora de parar?
-Sim, quero! - Levantou um pouco a cabeça, conseguiu olhar nos olhos de seu mestre. Não poderia estar tão distante. A chuva começava a doer em seus ombros, a espada parecia não querer se erguer.
O olhar do garoto era a única coisa que o impedia de parar. O olhar de quem não desiste até que morra. Era isso que o inspirava, essa vontade.
-Garoto? - Ele virou as costas ao pupilo. Admirava a chuva.
O jovem apenas encarava o mestre, mesmo naquele temporal, ele parecia imponente. Como se nada o abalasse.
-Sabe que a vida de um justiceiro é solitária? - Ele não cansava de falar nesse assunto. Queria que o garoto conhecesse tudo sobre essa vida antes de abraçá-la de verdade. - Se a única coisa que você almeja é um mundo justo, abandone os sentimentos; amor, amizade, afeto, ódio, raiva. Tudo isso pode poluir seu julgamento. Julgue friamente, baseado apenas naquilo que é fato.
O garoto não chegava a realmente refletir, as palavras soavam em sua mente como uma música de fundo suave. A dor em suas pernas o torturava, a fadiga parecia finalmente ter dominado seus braços. As palavras simplesmente entravam em seus ouvidos, e lá permaneceriam, até o dia em que ele realmente precisasse pensar sobre elas.
-Existem Justiceiros fracassados, que acabaram por se deixar influenciar pelos próprios sentimentos, deixando de fazer o julgamento corretamente. Assim como eu!... É difícil seguir esse caminho pela vida toda, por isso deve saber a hora de parar! - Levanta a cabeça, sentia um prazer indescritível ao sentir as gotas de chuva caindo em sua face.
O garoto ainda tentava se reerguer, então agora ele sabia por que seu mestre não lutava mais. Independente do que fizesse, sua espada poderia não trazer mais A Justiça. Por isso aceitara passar o legado. O peso de suas vestes parecia triplicado. Ainda assim manteve-se de pé. Ergueu a espada lentamente, enquanto seus músculos rugiam em protesto. Sua respiração parecia consumir o resto de sua energia, o ar entrava cortando sua garganta.
-Já chega! Consigo sentir sua respiração daqui! - Sabia que o garoto não respeitava os limites do próprio corpo. Se deixasse, provavelmente ele se mataria só treinando.
As palavras chegavam a ser ouvidas, mas não compreendidas. O garoto andava lentamente em direção ao mestre, olhos decididos. O jovem mira um golpe, arrisca...
"Ele não está ouvindo." Lentamente, mas sem hesitação se aproxima. "Ele levanta o braço, e aqui eu quebro o fluxo" um soco no tórax e enfim cai!
"Huahuahua! Teimoso até o fim!" - Espero que continue assim, Garoto!
Um comentário:
quanto a filosofia-de-vida dos justiceiros...
Ja ouviu falar de Jedais...
Ja ouviu falar de Bushidô...
"Descobri que ser samurai é o mesmo que morrer"
(alguem. In: MUSASHI Myamoto, Gorin-no-sho, introdução).
Mas não para de escrever, gosto dos contos
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